segunda-feira, 12 de abril de 2010

Náufrago


Neste último sábado, depois que meu filhote (infelizmente) voltou pra casa da mãe, por conta de um aniversário no prédio deles, estava eu solitário, como sempre, e já sem vistas para continuar lendo, afinal tenho estado numa maratona literária que está me deixando até vesgo (semana passada foram 04), achei por bem procurar distração frente à televisão... só pra variar.

Canal pra lá, canal pra cá.... e paro bem na parte final de um filme que já até vi várias vezes, mas que diante de tanta locupletação mental a borbulhar o ser, resolvi revê-lo pela enésima vez, mas foi como se fosse pela primeira visto aquele desfecho de filme. Tratava-se do "Náufrago", interpretado por Tom Hanks.

Antes de chegar na mensagem agora percebida, passo a um breve relato a partir do ponto em que passei a assistir: Chuck Noland (Tom Hanks), acabado de ter sido resgatado, estava numa sala privada do aeroporto, aguardando ansiosamente pela mulher da sua vida, sua noiva, cuja lembrança foi praticamente o lhe deu forças para se manter vivo.

Ocorre todavia, que quem entra é um homem, seu ex-dentista e atual marido da Kelli e pai de uma menininha de poucos anos (talvez 02 ou 03) que ele teve com a respectiva esposa, então ele inicia um verdadeiro monólogo, informando o desconforto por ser ele a dar a notícia, que ela achou que ele estivesse morto, e blábláblá.....

Noland não fala uma palavra sequer, permanece estático, sem demonstrar qualquer sentimento. O homem se despede, pedindo que ele dê um tempo antes de falar com a Kelli, pois esta estava bem abalada com a novidade do resgate. Ao olhar pela janela, ele (Noland) ve que sua então Ex-noiva tinha ido até o estacionamento, que chorava mas que não tivera coragem de entrar.

Então, ainda naquele dia, os amigos do náufrago dão uma festa de boas-vindas, e ele sempre muito pacífico, sem esboçar grande alegria, ou qualquer tristeza.

Durante a noite, que chovia, ele chama um taxi e vai até a casa da ex-noiva, que com insônia ve o taxi se aproximando e desce para abrir a porta da casa, ela lhe passa uma toalha e falam sobre banalidades (como time de futebol), mas um clima muito estranho é percebido (o que é bem óbvio, rs).

Então entre conversas, ela o leva à garagem e mostra-lhe para sua surpresa o carro, o mesmo carro que ele tanto gostava (uma gran cheroke, linda mesmo por sinal) entrega-lhe as chaves e diz que é dele... na despedida, inevitavelmente se beijam, e ela proclama seu verdadeiro amor, reconhece nele o homem da vida dela, entre lágrimas e suspiros.

Mas após o beijo, e reconhecendo que ali não era o seu lugar, se despede e vai embora. Ela, emocionada, sai na chuva gritando por seu nome, corre até a rua e justamente ele também, sem poder ouví-la tb. estava dando marcha-a-ré. A cena é linda, ele desce e os dois se abraçam e se beijam, frevorosamente. Ele a conduz até o carro, ambos entram e ali, após alguns segundos de silêncio, quando ele vai virar a chave para ligar o carro. ela o impede. ao que ele logo responde "Você tem que voltar pra sua família". Ela concorda e sai do carro, chorando...

Ele então parte para a casa de um amigo, e ali sentado diante de um ouvinte atento, ele passa a discorrer, mais ou menos nestes termos:

...quando cheguei naquela ilha, logo depois de um tempo, tinha certeza que jamais sairia de lá, que tinha perdido tudo, que nunca mais retornaria, que meu grande amor estaria perdido para sempre. Tentei me matar, pois nos meus cálculos, invariavelmente isto aconteceria, mais cedo ou mais tarde, fosse por um ferimento ou doença, mas sem recursos... era inevitável. Resolvi então dar cabo de minha vida para evitar maiores sofrimentos, escolhi no alto de uma rocha uma árvore, para poder enforcar-me, porém, antes de colocar meu próprio pescoço, fiz um teste para ver se a árvore suportaria meu peso, não suportou e árvore espatifou-se lá embaixo. Daquele ponto em diante, percebi que não tinha controle nenhum sobre minha própria vida, pois nem morrer como gostaria era possível. Mas que, diante disto, só restava uma coisa a fazer, manter-me vivo, respirar. simplesmente respirar.

Um dia, depois de muito tempo, a maré me trouxe uma vela (de barco tá!) e então através dela consegui sair de lá.

Então, hoje.. novamente percebo que perdi a Kelli para sempre, mas agora já sei o que fazer, a vida me ensinou, vou continuar respirando, manter-me vivo... pois nunca sabemos o que a maré vai nos trazer...

Estas são praticamente as minhas palavras, mas idéia central, podem ter certeza é esta, este é o ensinamento e tudo que ele diz. Ele não chorava ou se lamentava, ele parecia estar feliz com aquele insite, e contava até mesmo com certa empolgação ao amigo que lhe escutava.

No dia seguinte, ele viaja para entregar uma das correspondências do FedEx, e para diante de uma encruzilhada, a decidir qual o caminho seguir.... mas deixando uma mensagem subliminar em sua experessão de felicidade e harmonia.... não importa o que fosse escolher, seria o melhor caminho, e ele estava livre de suas próprias amarras.

Valeu a pena ter visto o finalzinho do filme, pois mesmo sem o "Wilson" (que tem uma ótima atuação aliás, hehe... muito expressivo), existe uma beleza muito grande no personagem que encontra ao final sua própria transcendência, sua libertação, aceitação e fé na conduta de sua vida, pois basta continuar respirando.... me fez lembrar a paciência dos antigos monges do deserto, que encontram em si, o Universo hereditário, e no silêncio... sua melhor fala.

Bem, preciso ir embora... cuidar das minhas galinhas e codornas (difícil vai ser achar ração este horário, rs).

E como sempre disse, se ainda estamos vivos gente, ainda temos alguma chance, basta deixar de olhar para o próprio umbigo, erguermos as cabeças e nos compreendermos filhos do Sol, filhos de Deus, na Magnitude que esta descendência encerra por si só, trilhando caminhos sem ego, sem vaidade e disputa.

Foi isto que a personagem aprendeu, aprendeu a ter paz. Sem ego, sem apego, sem disputa, sem vaidade...

Sigamos Seu exemplo, e sejamos um bom exemplo, para nossos próprios filhos, de paz, sem mágoas, ou máculas a manchar a leveza de nossa Essência, muitas vezes esquecida, mas que pode ser exercitada, basta abrandar o coração e enxergar o amor.

E olhem só como este filme rendeu comentários no campo da psicologia, filosofia, sociologia e até mesmo teologia... e para aqueles que ainda "perdem" tempo para tentar galgar passos mais longos na esfera evolutiva e buscam verdadeira Consciência dos "porquês da vida", segue um link realmente esclarecedor, de algumas mensagens implícitas no Naufrágo:

http://e-revista.unioeste.br/index.php/espacoplural/article/download/1439/1169

Saudações e até breve.

Cuidem de suas almas!!!


Evandro


4 comentários:

Gi disse...

Hummmm.... interessante o ponto de vista. na verdade sempre achei este filme meio chato, mas vou verificar melhor.

Bj.


Gi.

Gi disse...

Olha, para você variar então... aqui vai uma dica "Janela da Alma" de José Saramago.

Muito profundo e inspirador de amor, acho que vai gostar (se é que já não assistiu, rs).

Querido, vou pra aula, depois me diga se gostou ou o que acha deste filme.

Bj. Gi.

PS: Pode responder no meu email.

Gi disse...

Ops, uma errata, Saramago atua no filme, mas a direção é de João Jardim e Walter Carvalho (mas lembra bem).

Aproveitando a oportunidade, rsrs... outro bj.

Evandro disse...

Nossa, que dia cheio de trabalho.... bem, só pra esclarecer, fiz algumas alterações mínimas no último texto, correções e tal, e dei uma leve enxugada...

Obrigado pela dica Gi, ainda vou pesquisar, e não, não vi este filme ainda.

E ano, obrigado por seu comentário, e seja sempre bem vindo, é uma honra sua visita e poder compartilhar sua sabedoria.

Agora, voltar à labuta... ao menos mais meia horinha, hehe...

E v a n d r o