quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Ao Deus Desconhecido

Por vezes, quando os fatos começam a ser interpretados e sentidos de forma que venha a nos causar alguma espécie de incômodo ou dor, acredito - como já reiteradamente comentado - que seria o momento de se buscar em si a correta sapiência e interpretação destes próprios fatos, de modo a Se entender, considerando a grandeza do Infinito, a regularidade das coisas e validarmos com maior propriedade nossa experiência de Vida.

Mas algumas "dores", de tão latentes, acabam por obscurecer a ótica do auto-conhecimento, especialmente por se conduzirem, exatamente nos mais desalinhados trilhos de nossa formação psicológica, espiritual e filosófica.

E de acordo com nosso estado "defeituoso" (ou nossa sintonia) e envolvimento com a questão que tanto sufoca, batemo-nos novamente na consideração não mais daquele fato em si, causador da dor, mas da nossa própria postura diante da vida, pois o sofrimento sentido é mormente entendido como a reação de alguma ação equivocada de nossa parte e tudo então precisaria ser revisto.

Sabe aquela ótica do "será que todo este mundo está certo e eu é que estou louco?" Então, acaba por ser muito evidente quando sentimos realmente uma dor existencial diante daquela realidade que criamos para nós mesmos. É como se tivéssemos errado na receita.

Mas como o paladar não absorve com a mesma consideração e relevância toda a gama de nutrientes que o corpo necessita, também a alma viciada deixa de compreender aquele alimento que embora amargo, nutri nossa essência, nosso mais profundo Ser.

Mas e se a "dor" for demasiada potente e avança a todo vapor, empriguinando-se na alma ao ponto de nos perdermos daquele Ser inabalável que nos compõem???

Neste aspecto interessante considerar a normótica visão e papel da religião no mundo, pois em certos momentos e a forma que se interage e se compreende no contexto do Universo, realmente nos desligamos da origem - não efetivamente, é claro - pois o filho que se afasta do Pai não deixa de carregar sua genética (seja física ou espiritual/energética), mas nos perdemos na nossa confusão e dor, criando um abismo entre os dois mundos (humano/Divino).

Então temos que nos re-ligar, ou seja, usar da religião íntima e convincente ao Ser que nos compõem, para restabeler o pedido de socorro às forças Superiores, para que seja desobstruido o entendimento Destas mesmas forças em nós.

Muito interessante é a visão "Nietzchiziana" da validade da religião como compreensão e caminho para a libertação dos espíritos, que, em apertada síntese, considera a relevância em se buscar na formação da espécie humana, as respostas dos reflexos hoje experimentados. E nesse contexto toda a religiosidade, como mola motriz dos mais elevados sentimentos humanos e até mesmo interventora do "modus operandi" de toda uma sociedade, aparece como o maestro oficial a conduzir a alma. E nos acostumamos com isto.

Por isto, acredito que em certos momentos, mesmo que já tenhamos nos desprendidos da Cartilha basilar e opressora ainda imposta e seguida pela sociedade, ou seja, mesmo compreendendo que depende unicamente de nós a condução do futuro mais próximo, é que o sentimento da busca, do socorro e tranquila espera que a religião encerra faz falta... Não por seu conteúdo e mérito, mas por sua tradição e reflexo disto em nossa formação, pela postura protetora (embora imatura) que nos colocamos ao rogar ao Além.

Portanto meus caros, quando não mais se alcança as bordas da Sabedoria Divina, e nos vemos diante de abismosa realidade humana... oremos:

"Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para a frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.

A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar.

Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:

"Ao Deus Desconhecido"

Seu, sou eu, embora até o presente momento tenha me associado aos sacrilégios.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a serví-Lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quero servir só a Ti.""
(Friedrich Nietzche)

2 comentários:

Anônimo disse...

E o que é a dor senão uma simples forma de aprendizado?

E o que é a religião senão - como muito bem dito - uma simples forma, ainda que imatura, de refletir e buscar auxílio no Além?

Não há que se prantear aos quatro ventos o inconformismo face à adversidade, nem tampouco chafurdar na lama buscando o significado desta ou daquela experiência, mas sim admiti-la como mera forma de crescimento (ou de diversão) e seguir em frente - SEMPRE!

Evandro disse...

É isso aí meu caro amigo, "para o alto e avante", sempre atentos na medida de assimilação frutífera ideal para o próximo passo e daí por diante.

De fato, uma busca exacerbada de explicações de certas questões, que pela própria natureza e possibilidade de assimilação deveriam ser paulatinos e sequenciais, pode fazer com que incorramos em maior confusão, tédio e desânimo, pos perderíamos o "fio-da-meada".