Mas algumas "dores", de tão latentes, acabam por obscurecer a ótica do auto-conhecimento, especialmente por se conduzirem, exatamente nos mais desalinhados trilhos de nossa formação psicológica, espiritual e filosófica.
E de acordo com nosso estado "defeituoso" (ou nossa sintonia) e envolvimento com a questão que tanto sufoca, batemo-nos novamente na consideração não mais daquele fato em si, causador da dor, mas da nossa própria postura diante da vida, pois o sofrimento sentido é mormente entendido como a reação de alguma ação equivocada de nossa parte e tudo então precisaria ser revisto.
Sabe aquela ótica do "será que todo este mundo está certo e eu é que estou louco?" Então, acaba por ser muito evidente quando sentimos realmente uma dor existencial diante daquela realidade que criamos para nós mesmos. É como se tivéssemos errado na receita.
Mas como o paladar não absorve com a mesma consideração e relevância toda a gama de nutrientes que o corpo necessita, também a alma viciada deixa de compreender aquele alimento que embora amargo, nutri nossa essência, nosso mais profundo Ser.
Mas e se a "dor" for demasiada potente e avança a todo vapor, empriguinando-se na alma ao ponto de nos perdermos daquele Ser inabalável que nos compõem???
Neste aspecto interessante considerar a normótica visão e papel da religião no mundo, pois em certos momentos e a forma que se interage e se compreende no contexto do Universo, realmente nos desligamos da origem - não efetivamente, é claro - pois o filho que se afasta do Pai não deixa de carregar sua genética (seja física ou espiritual/energética), mas nos perdemos na nossa confusão e dor, criando um abismo entre os dois mundos (humano/Divino).
Então temos que nos re-ligar, ou seja, usar da religião íntima e convincente ao Ser que nos compõem, para restabeler o pedido de socorro às forças Superiores, para que seja desobstruido o entendimento Destas mesmas forças em nós.
Muito interessante é a visão "Nietzchiziana" da validade da religião como compreensão e caminho para a libertação dos espíritos, que, em apertada síntese, considera a relevância em se buscar na formação da espécie humana, as respostas dos reflexos hoje experimentados. E nesse contexto toda a religiosidade, como mola motriz dos mais elevados sentimentos humanos e até mesmo interventora do "modus operandi" de toda uma sociedade, aparece como o maestro oficial a conduzir a alma. E nos acostumamos com isto.
Por isto, acredito que em certos momentos, mesmo que já tenhamos nos desprendidos da Cartilha basilar e opressora ainda imposta e seguida pela sociedade, ou seja, mesmo compreendendo que depende unicamente de nós a condução do futuro mais próximo, é que o sentimento da busca, do socorro e tranquila espera que a religião encerra faz falta... Não por seu conteúdo e mérito, mas por sua tradição e reflexo disto em nossa formação, pela postura protetora (embora imatura) que nos colocamos ao rogar ao Além.
Portanto meus caros, quando não mais se alcança as bordas da Sabedoria Divina, e nos vemos diante de abismosa realidade humana... oremos:
A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:
Seu, sou eu, embora até o presente momento tenha me associado aos sacrilégios.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a serví-Lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quero servir só a Ti.""