quinta-feira, 10 de agosto de 2006

"Humano, demasiado humano"

Outro dia, conversando calorosamente com uma amiga sobre a reiterada questão de se praticar filosofia no dia-a-dia, como único meio libertador para uma vida harmônica e fulcrada nas reais essências da espécie humana, uma questão me chamou muito a atenção.

Num momento da conversa ela me perguntou como vivenciar uma filosofia libertatória como a do Budismo, num mundo tão capitalista e material, onde se "correr o bixo pega se ficar o bixo come". Foi mais ou menos assim: "então devemos largar mão de tudo, jogar pro alto e viver a vida?"

Racionalizando a questão, concluí, posteriormente, que se largarmos tudo para viver na concepção transcendental, estaríamos enveredando numa única margem do caminho, pois enquanto encarnados, outra corrente natural e forte nos tangencia para a margem oposta, criando o equilíbrio necessário para melhor compreendermos do nosso papel no mundo como ele é, para que o transformemos. Afinal... "Ide e pregai".

Na verdade, tenho concluído (como se isto fosse possível e saudável, concluir) que a filosofia somente contribui para a busca da Sabedoria, crescimento e difusão, se pareadas com as demais "energias" mundanas, como contra-senso a ser estirpado pelo animal-racional.

Na minha parca concepção, quanto mais me certifico da transitoriedade deste mundo fenomênico (ou material, ou ilusório...) mais me interesso em investigar as nuances dos porquês de tanto "desequilíbrio" e "sofrimento", bem como de tantas "alegrias" e "felicidades", se tudo partiu de uma única energiar vital/Divina, que na verdade permanecerá assim, independentemente até mesmo da nossa própria "vida".

Bem, para não correr o risco de ser mais prolixo ainda, vou encerrando este ensaio, cujo título, aliás, é plágio do livro de Nietzsche, transcrevendo uma pequena amostra deste gênio filosófico, que em muito transmite o modo como venho sentindo a vida:

"No curso de uma formação superior tudo se torna interessante para o hmem, ele sabe ver rapidamente o lado instrutivo de uma coisa e indicar o ponto em que, utilizando-a, pode completar uma lacuna de seu pensamento ou confirmar uma idéia. Assim é afastado cada vez mais o tédio, e também a excessiva sensibilidade emocional. Por fim ele anda entre os homens como um naturalista entre as plantas, e percebe a si mesmo como um fenômeno que estimula fortemente o seu impulso de conhecer".

2 comentários:

Anônimo disse...

A busca do transcedental no humano é que seria a verdadeira razão de estarmos aqui. Mas a alienação não necessariamente nos levaria ao encontro da "verdade". Os pequenos atos, o dia-a-dia, os apuros, as paixões, as dificuldades, os capitalismos da vida é que nos ensinam a realmente lidar com essa busca.

A dificuldade consiste exatamente em tentar coordenar tudo isso com uma postura de aprendizado e crescimento interior. Ou seja, sempre o chamado "caminho do meio".

A convivência diuturna com a sociedade em todas as suas nuances, desde os iluminados até o mais céticos é que teria o condão de nos ensinar a aquilatar as posturas de cada ser humano, visando, em última análise, o próprio crescimento interior.

Evandro disse...

Sabe que esta dificuldade de coordenação, por experiência própria, pode ser atenuada quando praticamos certas verdades, ao invés de considerá-las somente como verdades. Mais ou menos assim: se fumar faz mal e ainda estou vivo (ou seja, minha missão não acabou), porque aceito este mal??? Somente a prática realmente do que sábio nos pode libertar do pior de dois mundos: a boa consciência do mal.