quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O penúltimo e o último

Bem, se não começasse as escrever logo, o título teria que ser só "último", é que já é quase meia noite, exatamente 23:44 h.

Mas enfim, salvado o título pensado, entre tragos de gudan e goles de vinho, vou tentar transcrever, ao menos "para registro" as sensações vividas e quem sabe (o que já aviso, não será muito provável), alguma conclusão filosófica ou psicológica para as "coisas da vida".

Hoje passei boas horas em cada cômodo desta casa, deixei virem todas as emoções e sensações.. chorei... por tristezas e alegrias, tudo veio, tudo... e tudo foi devidamente reverenciado, revisto e depois repousaram em paz.

Agora fico mais na sala, rs... virou nestes últimos 03 dias, bem mais que um "cercadinho", foi uma fortaleza para convicções e certezas, inclusive das dúvidas, rs. Mas enfim, foram dias produtivos, em todos os aspectos.

Revi pessoas queridas nestas duas últimas semanas e entre um almoço e um jantar... muitos ajustes foram feitos, energias amenizadas ou no mínimo, houve muita boa vontade para isto.

Mas voltando à casa, meu antigo lar. Amanhã (ou daqui a cinco minutos) estarei no meu último dia por estas paragens. Prescreveu toda possibilidade de continuar "freado" na vida, em detrimento de lutas que muitas vezes nem eram minhas (ao menos diretamente), e esta libertação física vem bem a calhar... pois não darei férias ao meu corpo somente, mas também à alma.

E esta semana de estagia nostalgia, nesta casa desmontada... serviu como a prévia miniminista do que será esta experiência nova, que inicio em minha jornada. Pois envolve muita solidão, mas muito encontro de si mesmo, sem qualquer influência... a não ser si próprio.

Sabe o que é engraçado e me deixa deveras ansioso, é que eu sei quem eu vou encontrar lá, ainda que demore alguns dias... , mas quem me espera, sorri muito, tem um coração acariciado e cuidado, uma visão mais ampla da vida... sabe enxergar melhor seu terreno firme, cuida de si em primeiro lugar, sabe com respeito de sua "Eternidade".

Esta pessoa, cujo nome começa com "E" e termina com "vandro"... já é meu conhecido de longas datas... ficou fora para aprender um pouco mais, e tá voltando... sinto isto, muito forte aliás.

Mas voltando a mim, eis que chegou... a oito minutos aliás, o ÚLTIMO dia!!!!

Ahhh... este dia tão especial, quantas saudades sentirei, embora poucas hei de deixar. Acontece que saudade mora no coração, e o meu não é melhor do que o de ninguém, ele só é demasiado de teimoso, isto sim...

Àqueles da "terrinha", que até chegaram a se acostumar com cheiro do gudan (embora nem todos)... saibam que fará falta a boa esquina do "fumódromo", palco fértil para várias coisas em minha vida, assim como os cafés na Auxiliadora, os almoços no restaurante Chinês ali perto (que serve um peixe maravilhoso..., fora o lombinho...), as pizzas do Gordo, enfim.... tantas e tantos encontros e desencontros que excedeu, e como sempre repeti, todo excesso é demoníaco, rsrs.

A todos que aqui conviveram, seja pelo tempo que foi, desculpe os desgostos causados, em conversas polêmicas, ou pela visão muitas vezes utópica das coisas... minha velhice e descrença, sei lá, qualquer coisa que os desagradou, que esperavam outra atitude, me desculpem mesmo, vocês sempre moraram no meu coração (e mesmo que ele não fosse teimoso, rs).

Não é o último post, mas é o último que escrevo.

O próximo... vou deixar pro meu saudoso amigo, que há de me encontrar, seja onde for.... e ali, por procuração espiritual passará a assumir não só o blog, mas minha vida.

Que os copos derrubados na mesa, doravante, sejam uma boa lembrança deste desastrado... que por certo vem resgatando alguma grande "evandrada" da vida, pois não será fácil deixar de executar tais "façanhas" (como aquela ímpar no aniversário do Emerson, kkk...) sem vossos testemunhos.

Aiai.. tanta coisa pra falar... mas a emoção começa a agir tão automaticamente, que para ser coeso, voltarei daqui a pouquinho. (agora são 00:23)

Bem, acho que tá bom assim... sem muitas delongas, afinal nada que eu escreva será estranho para os que me conheceram, talvez somente esta nova era que se inicia, pois pra mim não deixa de ser uma incógnita, pois depois de tantos anos nesta cidade, que acolheu meu filho, onde cresci pessoal e profissionalmente, e pude gozar um bom resto de minha juventude... eis-me doravante despido disto tudo.


SAWABONA !!!

Evandro

PS.:

Mas para justo desfecho desta fase, enriqueço meu blog com as palavras de Gibran:



"DESPEDIDAS

...

Breves foram os meus dias entre vós, e ainda mais breves as palavras que

preferi.

Mas se acaso a minha voz desaparecer dos vossos ouvidos e o meu amor se

desvanecer na vossa memória, então eu voltarei.

E com um coração mais rico e a boca mais virada para o espírito eu falarei.

Sim, eu voltarei com a maré, e, embora a morte me possa esconder e o grande silêncio envolver-me, na mesma procurarei a vossa compreensão.

E não será em vão essa procura.

Se aquilo que eu disse é verdade, essa verdade revelar-se-à claramente e em palavras mais perceptiveis para o vosso pensamento.

Vou com o vento, povo de Orfalés, mas não vou no vazio, e se este dia não é o preenchimento dos vossos desejos e do meu amor, então deixai que seja uma promessa para outro dia.

As necessidades do homem mudam, mas não o seu amor, nem o desejo de que o seu amor satisfaça as suas necessidades.

Ficai a saber que, do grande silêncio, eu voltarei.

A neblina que se desvanece de madrugada, deixando o orvalho nos campos, erguer-se-à e juntar-se-à numa nuvem que caíra como chuva.

E eu tenho sido como a neblina.

A vida, e tudo o que vive, é concebido no nevoeiro e não no cristalino.

E quem sabe que o cristalino não é senão o nevoeiro em decadência?

É isto que eu gostaria que recordasseis quando vos lembrardes de mim.

Que aquilo que parece mais fraco e débil em vós é o mais forte e mais determinado.

Não foi a vossa respiração que erigiu e fortaleceu a estrutura dos vossos ossos?

...

Adeus, povo de Orfalés.

Este dia chegou ao fim.

Fecha-se sobre nós como o nenúfar sobre o seu próprio amanhã.

Aquilo que nos foi dado aqui, conservaremos, e se não for suficiente, então teremos de nos juntar novamente e estender as mãos ao doador.

Não vos esqueçais que voltarei para junto de vós.

Um pouco de tempo e juntarei espuma e pó para outro corpo.

Um pouco de tempo, um momento de descanso sobre o vento e outra mulher me trará dentro de si.

Adeus a vós e à juventude que passei convosco. Foi só ontem que nos encontrámos num sonho.

Cantástes para mim na minha solidão, e dos vossos desejos construí uma torre no céu.

Mas agora o nosso sono voou e o nosso sonho chegou ao fim e já não é aurora.

O meio dia está sobre nós e o nosso meio despertar tornou-se pleno dia e devemos separar-nos.

Se no crepúsculo da memória nos encontrarmos mais uma vez, voltaremos a

falar e cantareis para mim uma canção mais profunda.

E se as nossas mãos se voltarem a tocar noutro sonho, construiremos outra

torre no céu.” (O Profeta)

Um comentário:

Evandro disse...

Não falei?! rs